sábado, 15 de fevereiro de 2014

Noturnall - O álbum que machuca o ouvido

Há anos eu perdi o tesão de escrever matérias, releases, teasers e chamadas de bandas, álbuns de tudo o que eu ouvia no mercado fonográfico, pois os anos passam e as responsabilidades aumentam. Porém, desta vez, acho que me sinto na obrigação de fazê-lo novamente.



Neste exato momento estou me sentindo meio nostálgico, pois estou lembrando dos tempos que escrevia chamadas, matérias e algumas releases para sites de Heavy Metal do Brasil, ou me matava para conseguir colocar alguns textos sobre bandas que eu curtia em sites estrangeiros apenas pelo prazer de divulgar o material.

Neste exato momento, cometo uma redundância do português pois mais uma vez (deve ser a nona ou décima) estou ouvindo o debut da banda Noturnall e tentando assimilar todo o material disposto no CD já disponibilizado para o mercado.



Se você, por algum motivo, tem algum problema com os integrantes da banda ou faz picuinha na internet por causa dos blablablás da vida, penso então que esta matéria não é para você, pois mesmo sendo imparcial nos meus comentários, desta vez eu vou ter que "rasgar seda" pelo que ouvi, pela irreverência do álbum, pela força musical e amadurecimento destes músicos que foram tão dedicados ao trabalho.

Primeiramente, eu destaco o encarte do CD e toda a obra de ilustração nele contida. Me remete ao passado, como quando comprávamos discos na Galeria do Rock (que era de rock) e íamos até o parapeito do primeiro andar para ficarmos discutindo sobre as figuras, elementos, detalhes e ler até os agradecimentos de cabo a rabo. É um encarte a primeira vista confuso, mas é aí que mora a classe dos álbuns de Heavy Metal. São tantos elementos que você consegue perder muitos minutos vendo o apreciando em todos os detalhes.



A prensagem também tem uma imagem bem acabada e maravilhosa. O artista gráfico foi muito feliz na escolha das cores, na vibração dos elementos e na saturação dos contrastes. Realmente, é um conteúdo bem diferenciado para quem curte capas, contra-capas e suas informações.

Agora vamos ao conteúdo gravado - acredito eu que seja a parte mais esperada do texto:

1 - No Turn At All

O começo da música parece o início do filme "O resgate do soldado Ryan". Começa tudo em uma calmaria metalística, até que uma chuva de metralhadas palhetísticas, porradas de bumbo e mais alguns mil apetrechos de bateria socam a cabeça de quem pretende ouvir a música. Não obstante e na sequência, a quantidade de "firulas" e elementos utilizados por Aquiles Priester parecem dar uma cara totalmente diferente a esta música. Com certeza é muito forte, com muitos elementos, diversos solos bem arranjados, um teclado acima da medida e o que mais me impressionou - um Thiago Bianchi como nunca se viu antes. É de assustar. Em alguns momentos lembro da minha banda preferida, o Pantera. Tinha mesmo que ser a faixa de abertura do disco.

2 - Nocturnall Humans Side

A música que foi o primeiro Single da banda no mercado realmente tem algo diferente. Com muitas passagens bem trabalhadas, um teclado com timbres na medida, um Leo Mancini inspirado e todo o conjunto bem sincronizado. Vale destacar a forte voz do participante convidado, o "fraco" Russel Allen (Adrenaline Mob - Simphony X). A música tem vários altos e transições de formas. É uma viagem gostosa de se ouvir.

3 - Zombies

Sou suspeito para falar deste tipo de música, mas já que resolvi escrever sobre este álbum, não tem como fujir. Para aficcionados por Fear Factory como eu, ouvir esta música é como voltar nos velhos tempos Digimortal. Nesta música em especial, foi a primeira vez que achei não ser possível ser o Thiago Bianchi cantando. Mas quem conhece o seu timbre e forma de cantar, sabe que é o "gajo". Diferente e porradística. Se esperava ouvir Fear Factory até o final, aí que você se engana - a música muda constantemente de melodia e mais uma vez abusa dos elementos.

4 - Master of Deception

Se existe alguém que me assustou nesta música, este alguém é o "fumaça". Dizer o que o Fernando Quesada está tocando no baixo é impossível. A música começa pesada, como uma paulada constante, mas viaja no Hard Rock em várias partes. E é exatamente isto que dá o toque especial da música. Em alguns momentos, consegui lembrar de várias influências importantes, como por exemplo no refrão colante. Elementos do progressivo? Muitos. Excelente música. 

5 - St Trigger

A primeira passagem da música é super interessante, mas o que te gruda mesmo nela está logo após os 40 segundos iniciais que me remetem de alguma forma aos materiais do Dream Theater. Talvez meio parecido com algumas passagens do álbum Falling to Infinity. Um refrão colante, bonito e totalmente AGE. O tipo de parte de música que gruda na cabeça. Talvez esta seja a música que eu ainda não tenha conseguido digerir perfeitamente. Preciso escutá-la mais algumas vezes.

6 - Sugar Pill

Quando mais novo, na adolescência - eu sonhava com o som perfeito para dirigir meu carro em alta velocidade. As bandas que me remetem a isto vão desde Guns 'n Roses até AC/DC. Com certeza eu posso incluir esta música na sequência do playlist. É um Rock "baladêta" bem legal. É justamente neste momento que o álbum passa por um divisor de águas.

7 - Last Wish

Você já viu um homem ter a maior sensação de nostalgia do mundo? Pois é - foi exatamente o que eu senti. Para quem acompanha a carreira do Thiago Bianchi desde o início, lá nas épocas de Inside Eyes (Karma), seja nos seus altos e baixos, nas alegrias e na sua doença, lembraria totalmente do Álbum (que para mim, soa totalmente atual) Leave Now. Quando ouvi esta música eu me arrepiei de cima em baixo. Foi como lembrar dos tempos das "demos" jogadas nas nossas mãos para ver se o material estava ficando bom. Esta música para mim tem um significado muito especial. Acredito que para o Thiago também.  Excelente composição, players perfeitos e um Q de "volta Karma" ;).

8 - Hate

Mais Fear Factory e um pouco de Symphony X na veia. Pesada, sem muitas firulas e com um vocal agressivo, é uma música muito interessante. Mas eu ainda preciso ouvir um pouco mais antes de dar uma opinião tão formal. 

9 - Fake Healers

Se alguém aqui lembra-se do Annihilator, parabéns - acabou de ver "Alice in Hell" passando na cabeça, com as guitarras e quebradeiras que só Jeff Waters teria feito. Mas não existe só ele no mercado musical e também não é só ele o dono de todo o talento do mundo. Me senti voltando as minhas origens do Thrash Metal. Música bem interessante e com um Mancini mostrando para que veio. Excelente faixa.

10 - The Blame Game

A música que fecha o álbum é uma balada. Sim - depois de tanta pancadaria, uma baladinha para acalmar os ânimos. Então, nesta hora é que uma banda realmente trabalha tudo o que sabe e não podia ser diferente: sentimental, variante, elevante e que faz voltar as épocas de "rock da escola". Sem dúvida, uma música gostosa de ouvir. 

Considerações finais

Mesmo sendo o primeiro trabalho da banda Noturnall, acredito eu que ele esteja a altura de muito material gringo que está rolando por aí. Aliás, falar em "a altura" é meio "ainda não chegou lá", então, penso que ele é realmente um material DE qualidade totalmente gringa. 

Não é um álbum fácil de ser ouvido pela grande quantidade de informações constantes nas músicas, porém, é um álbum fácil de ser adorado justamente pelos mesmos motivos. Também posso dar a opinião de que este álbum talvez seja o melhor lançamento brasileiro de Heavy Metal dos últimos cinco anos.

Parabéns, Noturnall - que venha o sucesso, os shows e os novos álbuns.

Notas - De 0 a 5
Capa...: 5
Encarte: 5
Mídia..: 5
Músicas: 5
Geral..: 5.0 MERECIDO