sexta-feira, 30 de julho de 2010

Dois minutos em uma hora (Trilhas de bike).

É cedo. Procuro levantar sem pensar em absolutamente nada para fazer a execução perfeita. Para isto, tomo um banho bem quente, limpo todos os detalhes do corpo como se estivesse removendo toda a impureza da humanidade.


Tomo um bom café da manhã, regado a leite com chocolate, pães variados, manteiga, geléia e frios. Tem que ser assim pois toda esta alimentação será consumida em pouco mais de cento e vinte segundos.

Separo a roupa e os acessórios de proteção, levando-os para o carro. Novamente, volto até a residência e pego a minha parceira de todas as manhãs de sábado e domingo. Como em um ritual, coloco tudo dentro do carro com o maior cuidado e saio em direção a serra da Cantareira (trilha do Urubu), ponto turístico de São Paulo.

Chegando ao local, retiro todos os acessórios e começo a me vestir para completar os preparativos da enorme viagem de uma hora. Sim, serão cento e vinte segundos como se fosse uma hora.

Olho para minha magérrima – ela está perfeita como sempre. Salto preto, pés sujos e toda empoeirada. O barro ainda toma conta do seu corpo por causa do passeio anterior, mas ela me entende afinal, também ama a natureza.

Preparo-me. Em frente ao enorme desfiladeiro existe apenas uma entrada. Ela começa com uma curva para a direita caindo direto no jardim de pedras. Fantástico – posso sentir a minha parceira tremendo o corpo inteiro e eu a seguro firmemente para não perdermos o controle.

Logo avisto a primeira queda. E que queda. Um barranco todo inclinado em mais ou menos 60 graus de curvatura. Antes de chegar a queda, sempre vejo o santinho colocado na pedra principal por algum viajante como eu. Ele me protege em todas as curvas da montanha.

A primeira queda chega. Sem pensar, sou jogado pela minha parceira em um ato de coragem – para perder o medo. Não minto que o frio sobe na barriga, pois neste momento, ambos descolamos os pés do chão. Fantástico. É uma queda de um segundo e meio, mas logo estamos em solo firme com uma curva chicane a menos de cinco metros.

Entramos na curva com enorme sucesso. Ao lado, um barranco de mais de cinco metros de altura e logo a primeira curva para a esquerda direcionada a ele. Eu estou com medo, mas a adrenalina é tanta que não o sinto – somente as pernas amolecem. Já se passaram quarenta e cinco segundos de trilha. Diante do barranco, toda a mais bela paisagem do vale a minha frente. Em meio a estes segundos eu consigo paralisar por mais de trinta minutos na mente.

Caio no barranco de frente, com as pernas fechadas e apertando todo o corpo de minha parceira. A queda é muito bruta e seqüencial. Diante da queda, mais um jardim de pedras (inexplicável a beleza de pedras formando um jardim).

Por fim, a última curva em direção ao primeiro salto. Um salto assustador feito de morrinhos de terra. Pulamos e caímos no meio da mata que é o fim da trilha.

Nestes minutos eu consigo congelar todos os pensamentos e me livrar dos problemas da vida. É um anestésico natural que faz parte de minha vida.

Espero a adrenalina baixar aguardando o carro do resgate. Estou pronto para mais uma queda com minha parceira.

Vivas as trilhas. Viva o sentimento. Viva a humanidade..

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